Em uma sociedade cada vez mais voltada para a saúde física e mental, a busca por maneiras de prolongar a vitalidade do corpo e da mente se tornou uma prioridade. Embora o envelhecimento seja inevitável, estudos recentes vêm demonstrando que há formas de desacelerar seus efeitos, especialmente no que diz respeito ao cérebro e aos órgãos vitais.
A ciência das miocinas — proteínas liberadas pelos músculos durante o exercício — revelou uma conexão surpreendente entre a atividade física e o rejuvenescimento de diversas funções corporais, especialmente o cérebro.
As miocinas são moléculas de sinalização que, ao serem liberadas pelos músculos, viajam pelo corpo para comunicar-se com outros tecidos, incluindo o cérebro. Esse “diálogo” entre os músculos e o sistema nervoso é fundamental para manter a saúde cognitiva e prevenir o declínio mental ao longo da vida.
Quando nos exercitamos, nossos músculos se contraem e liberam essas proteínas que, por sua vez, estimulam processos no cérebro, como a criação de novos neurônios e a melhoria da plasticidade sináptica, aumentando a capacidade de aprendizado e memória.
Essa comunicação entre músculos e cérebro, chamada de “cross talk” pelos cientistas, é um dos mecanismos mais promissores para combater o envelhecimento. Ao manter os músculos ativos e fortes, as miocinas auxiliam na preservação das funções cognitivas, prevenindo condições como demência e Alzheimer. Além disso, há um impacto direto no humor e comportamento emocional, sugerindo que a prática regular de exercícios pode ser uma chave importante para a saúde mental.
Qual o impacto em nossa saúde?
O impacto do exercício físico, no entanto, vai muito além do cérebro. As miocinas têm uma função regenerativa nos órgãos em geral. O processo de contração muscular libera essas proteínas, que atingem órgãos como o fígado, os pulmões e até mesmo o coração, ajudando a manter sua funcionalidade. Dessa forma, o exercício físico atua como um remédio natural, promovendo o rejuvenescimento não só do cérebro, mas de todo o organismo.
À medida que envelhecemos, nossos músculos perdem parte dessa capacidade regenerativa, e o ganho de massa muscular torna-se mais difícil. No entanto, o que a ciência demonstra é que mesmo pessoas idosas podem se beneficiar dessa comunicação entre músculos e cérebro.
Mesmo exercícios moderados são suficientes para manter a produção de miocinas em níveis adequados, o que pode retardar o processo de envelhecimento e preservar tanto as funções musculares quanto cerebrais.
O hipocampo, uma região do cérebro responsável pela memória e aprendizado, é uma das mais afetadas pelo envelhecimento. Com o tempo, ele tende a encolher, o que aumenta o risco de doenças neurodegenerativas.
Porém, foi comprovado que a prática de exercícios físicos não apenas impede essa retração, mas pode até aumentar o tamanho do hipocampo em adultos mais velhos, melhorando a memória e protegendo o cérebro contra os efeitos do tempo.
Além disso, as miocinas não agem de maneira uniforme em homens e mulheres. Estudos apontam que algumas dessas proteínas, como a irisina, possuem uma função protetora diferenciada entre os sexos.
A irisina, que é influenciada pelos níveis de estrogênio, tem mostrado desempenhar um papel vital na neuroproteção, especialmente em mulheres na pós-menopausa, grupo que está mais suscetível a doenças neurológicas devido à queda dos níveis hormonais. Essa descoberta abre portas para tratamentos específicos que podem usar as miocinas como base para o desenvolvimento de terapias.
Ainda que o foco principal da pesquisa seja o impacto das miocinas no cérebro, o efeito positivo delas se estende a pessoas que já possuem condições neurológicas pré-existentes.
A atividade física regular tem demonstrado melhorar significativamente a função cognitiva em pacientes com doenças como Parkinson, além de promover a manutenção da massa muscular, fundamental para o bem-estar geral.
Outro fator importante é a prevenção da sarcopenia — perda de massa muscular relacionada à idade. A sarcopenia está diretamente ligada ao declínio cognitivo, e, ao prevenir a perda muscular por meio do exercício físico, é possível também proteger o cérebro de disfunções.
Essa interdependência entre músculos e cérebro ressalta a importância de um estilo de vida ativo como parte da prevenção contra doenças neurodegenerativas e declínio geral da saúde.
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A ciência das miocinas reforça a necessidade de repensarmos a maneira como encaramos o exercício físico. Não se trata apenas de manter o corpo em forma ou evitar doenças cardíacas, mas sim de promover uma comunicação constante entre nossos músculos e cérebro que, em última análise, garante o rejuvenescimento de todo o organismo. O segredo para uma mente afiada e um corpo funcional pode estar, literalmente, em manter-se em movimento.
A descoberta das miocinas e suas propriedades neuroprotetoras inaugura uma nova era na medicina preventiva, oferecendo uma maneira de prolongar a saúde física e mental por meio de algo tão simples quanto o exercício regular.
À medida que aprendemos mais sobre o impacto dessas proteínas, o exercício físico pode se tornar uma das ferramentas mais poderosas na luta contra o envelhecimento, garantindo que nossos cérebros e órgãos permaneçam saudáveis por muito mais tempo.
Bianca Vilela
bianca@biancavilela.com.br
BIANCA VILELA é autora do livro Respire, palestrante, mestre em fisiologia do exercício pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e produtora de conteúdo. Desenvolve programas de saúde em grandes empresas por todo o país há quase 20 anos. No Canal Saúde, Bianca fala sobre saúde no trabalho, produtividade e mudança de hábitos. Não deixe de visitar o Instagram: @biancavilelaoficial