A musculação no Brasil começou a ganhar destaque na década de 1980, sendo predominantemente praticada por homens. Para o público feminino, os exercícios mais populares incluíam ginástica aeróbica, localizados e steps.
Contudo, nos últimos anos, essa realidade mudou drasticamente. A prática da musculação se tornou mais inclusiva, atraindo tanto homens quanto mulheres, e ganhou força como uma modalidade respeitada. Hoje, o fisiculturismo se consolidou como um esporte de alta performance.
No entanto, como em qualquer esporte de alta intensidade, surgiram excessos. A busca por corpos esculpidos e desempenhos extraordinários levou ao uso crescente de anabolizantes, substâncias que modificam o funcionamento hormonal e driblam limitações genéticas. Esse uso, além de interferir nos processos naturais do corpo, traz uma série de consequências à saúde.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o Brasil é um dos maiores consumidores de anabolizantes do mundo, com cerca de 1 milhão de brasileiros utilizando essas substâncias de forma indiscriminada.
O uso de anabolizantes, principalmente fora de supervisão médica, pode resultar em efeitos colaterais graves, como problemas cardiovasculares, danos hepáticos, distúrbios hormonais e, em muitos casos, dependência psicológica. Além disso, o uso prolongado pode prejudicar órgãos vitais, aumentar o risco de câncer e levar a desequilíbrios emocionais.
Fisiculturismo natural: uma corrente crescente
Por outro lado, cresce também no Brasil o movimento do fisiculturismo natural, que propõe uma abordagem mais saudável e ética ao esporte. O fisiculturismo natural se baseia em treinos intensos, alimentação balanceada e uso dos hormônios produzidos naturalmente pelo corpo, sem recorrer a substâncias externas.
Embora o processo seja mais lento e desafiador, os resultados são duradouros e menos prejudiciais à saúde. De acordo com a Federação Brasileira de Fisiculturismo Natural (FBBN), o número de atletas naturais no país aumentou cerca de 30% nos últimos três anos, mostrando que a busca por performance não precisa comprometer a saúde.
No fisiculturismo natural, o esforço se concentra em explorar o potencial genético de cada indivíduo. Mesmo nas fases mais desafiadoras, como o período de preparação para competições, que geralmente ocorre três semanas antes do evento, o atleta se mantém fiel à integridade de seu corpo. A disciplina, a força de vontade e o foco em hábitos saudáveis são a base desse estilo de vida.
Eu, Bianca Vilela, fisiologista do exercício, pratico musculação desde os 15 anos, acompanhando de perto a evolução desse universo. Quando comecei, os pesos utilizados nas academias eram menores e a busca pela hipertrofia muscular não era tão acentuada quanto hoje.
Desde 1995, venho mantendo um estilo de vida ativo e, aos 44 anos, sou uma entusiasta da saúde e da musculação natural, sem recorrer a reposições hormonais. Para mim, o fisiculturismo natural é mais do que uma prática esportiva: é um compromisso com a minha saúde, respeitando os limites e o potencial do meu corpo.
O fisiculturismo e a musculação são, sem dúvida, poderosas ferramentas de transformação física e mental. Mas, para que essa transformação seja verdadeiramente positiva, é fundamental que ela seja acompanhada de responsabilidade e respeito à saúde.
Bianca Vilela
bianca@biancavilela.com.br
BIANCA VILELA é autora do livro Respire, palestrante, mestre em fisiologia do exercício pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e produtora de conteúdo. Desenvolve programas de saúde em grandes empresas por todo o país há quase 20 anos. No Canal Saúde, Bianca fala sobre saúde no trabalho, produtividade e mudança de hábitos. Não deixe de visitar o Instagram: @biancavilelaoficial